A Hora Da Estrela

         

    Trata-se de uma obra magnífica com suas particularidades e semelhanças literárias.

    A autora, Clarice Lispector, tem um estilo próprio, porém lembra muito a escrita de Machado de Assis, por manter contato direto com o leitor, mas este contato se dá através de um personagem criado pela autora que diz ser o narrador e escritor da história: Rodrigo S. M, através do qual Clarice se manifesta.

    Durante a obra, o “narrador” mistura a fala dos personagens com a sua própria narração. É necessário que se tenha bastante sensibilidade para absorver todo o conteúdo da história. Somente com esta percepção é possível notar quando quem fala é Clarice ou “Rodrigo”.

          A narrativa conta a história de uma imigrante nordestina, mais precisamente alagoana, que vai para o Rio de Janeiro em busca de trabalho e é descrita como sendo insignificante à sociedade. Inclusive, a preocupação do narrador em explicar o porquê de estar escrevendo a história é mostrada  todo o tempo, justamente por esta ser tratada como sem valor ou comum demais.

          A história em si é pequena, com muitos fatos do cotidiano; extremamente rotineira, o que possibilita ao autor mostrar a invariação da personagem, ou em outras palavras, a “mesmice” dela. Porém, é necessário grande atenção na leitura, pois os comentários do narrador são de suma importância para entender o valor da obra. Ele valoriza cada momento de mudança dessa “mesmice” da personagem, colocando a “explosão” de cada um desses instantes no livro.

           Macabéa é o nome dessa mulher, que só é revelado ao leitor no final do livro, o que ajuda-nos a compreender essa falta de identidade que ela possuía. A personagem também apresenta uma falta de percepção psicológica com o fato de ser alvo fácil da percepção alheia. Exemplo claro é o dos seus conhecimentos provenientes da Rádio Relógio, os quais ela ouve assiduamente, mas raramente compreende. Macabéa aceita  tudo sem questionar e com isso tenta se encaixar em uma sociedade que só a repele, a começar por seu relacionamento com Olímpico no qual fica a todo tempo tentando se encaixar às normas de seu “namorado”, sem nunca questioná-las.

          Olímpico possui princípios e valores completamente distintos de Macabéa. Ele almeja uma vida melhor, chega por muitas vezes a ser ganancioso ao se aproximar de Glória, amiga de Macabéa, só por ela ter uma boa vida. Já para a personagem principal, o prazer está sempre relacionado à dor; como ao ver um homem bonito, sofre por não o possuir.

          Macabéa tinha uma visão única da vida, e seu modo de pensar é intensificado quando, por indicação de Glória, vai à uma cartomante. A mulher mostra com clareza a tragédia que é sua vida e ao final enche Maca de esperança ao prever um futuro com muita felicidade. Ao sair da casa da cartomante, é atropelada por um Mercedes-Benz.

          A morte dela é o ápice de sua vida. É ali, atirada no meio do asfalto, que Macabéa é percebida pelos outros, pela primeira vez. Todas as emoções, esperanças e vontade de viver que ela nunca havia sentido antes, culminam-se poucos segundos antes de sua morte. É quando ela descobre o que é viver, quando chega, finalmente, a sua hora da estrela.